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30.7.06

Conflitos conjugais - infidelidade


Um dos maiores conflitos que pode ocorrer entre um casal diz respeito à infidelidade. Embora existam crenças - supostamente fundadas na biologia - de que o macho teria uma tendência natural a espalhar sua “semente” e, portanto, à traição da parceira, na própria natureza podem ser encontrados casos significativos de fidelidade. As araras azuis, por exemplo, mantêm fidelidade incondicional à relação até a morte de um dos parceiros, e dividem todas as tarefas de cuidar dos filhotes.

Na diversidade da espécie humana, pode haver várias atitudes com relação à questão da monogamia e da fidelidade, como expõe, de forma bastante espirituosa, o psiquiatra norte-americano Frank Pittman (1994, p. 60):

O que é natural para os seres humanos? Com que animais parentes nós mais nos parecemos: gibões, gorilas, orangotangos ou chimpanzés? Os gibões são tão monógamos que afugentam todos os intrusos, incluindo seus próprios filhos. Os gorilas são polígamos; [...] Os orangotangos são solitários e anti-sociais, mas ocasionalmente se encontram na floresta. Os chimpanzés são promíscuos [...]. Todos nós conhecemos pessoas que seguem alguns desses padrões; elas acham seu padrão tão natural quanto seus modelos primatas devem achar.


As reações frente à infidelidade também podem ser as mais diversas: ciúme intenso; sentimento de traição mesmo entre companheiros ou cônjuges que se desprezavam há muito tempo e evitavam qualquer contato físico entre si; imprevistas expressões de afeto por parte daquela pessoa que foi traída (levando ao indivíduo “traidor” a modificar seu projeto de abandono do lar); perda de perspectiva e responsabilidade e conseqüente desejo de vingança; raiva intensa, mesmo por parte daquele(a) que já traiu no passado, entre muitas outras (Nabarro e Ivanir, 2002).


Há um consenso entre os estudiosos sobre o assunto de que, se a relação entre o casal é suficientemente afetuosa e satisfatória, é possível superar a crise provocada pela infidelidade. Deve se ter em mente que a infidelidade é uma questão delicada e deve ser tratada na complexidade e peculiaridade de cada caso:

Não existe um caso típico de casal em crise devido a uma relação extraconjugal. Essas relações assumem uma grande variedade de formas e são conduzidas de modos diversos. Os significados a elas atribuídos e as motivações subjacentes são muitos, variados, assim como as circunstâncias da descoberta e dos efeitos subseqüentes. Os comportamentos são fortemente influenciados por diversos fatores: a fase em que se encontra o casal em seu ciclo de vida e de casamento, as dinâmicas individuais e de casal, o sistema de valores e o ambiente sociocultural em que a relação se dá (Nabarro e Ivanir, 2002).


Referências
PITTMAN, Frank. Mentiras privadas: a infidelidade e a traição da intimidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

NABARRO, Noga Rubinstein; IVANIR, Sara. A terapia dos casais de meia-idade em crise devido a uma relação extra-conjugal. In: ANDOLFI, Maurizio (org.). A crise do casal: uma perspectiva sistêmico-relacional. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 29-72.

11.7.06

O caminho ideal da gestão de conflitos familiares


O processo de gestão de conflitos familiares ideal está representado pela figura acima, cuja orientação segue as setas circulares em cinza.

Assim, se passamos por um conflito familiar (como, por exemplo, uma separação conjugal), primeiro deveríamos tentar o diálogo. A comunicação é um dos pontos-chave para se resolver um conflito de forma satisfatória para todos nele envolvidos. Na verdade, manter um diálogo em que se possa enviar e captar mensagens de forma compreensível e empática é uma árdua tarefa, um dos caminhos mais difíceis – e, por isso mesmo, o mais abandonado.

Na realidade, mesmo se a comunicação está inviabilizada, há alternativas anteriores ao ingresso na Justiça. Quando a pessoa está muito fragilizada pelo estresse envolvido em um conflito, pode buscar um apoio psicoterapêutico. Se o casal se encontra ambivalente com a separação, por exemplo, pode se beneficiar de uma terapia conjugal. Mesmo quando a decisão relativa à separação já está tomada, o casal pode recorrer a uma “terapia do divórcio”. Quando o conflito envolve mais membros do grupo familiar, uma terapia de família pode ser de grande auxílio.

De forma ideal, somente depois de tentar o diálogo e a ajuda terapêutica é que a(s) pessoa(s) em conflito familiar deveria(m) buscar a via jurisdicional. Por quê? Porque, dessa forma, o conflito já estará amadurecido, e a demanda judicial não será um subterfúgio para manter um vínculo emocional (positivo ou negativo). Dessa maneira, também, os filhos (no caso de uma separação) não representarão um “cabo de guerra” entre os pais.

Existem, basicamente, duas maneiras de se ingressar em juízo no caso de conflitos familiares: uma consensual e outra não-consensual. O método consensual envolve tentativas de ambas as pessoas em conflito de entrarem em um acordo sobre o objeto da demanda judicial. Pode ser extrajudicial, quando ocorre antes do ingresso na Justiça, ou judicial, no momento ou após o ingresso na Justiça. Um dos exemplos de método consensual de gestão de conflitos familiares é a mediação.

Esse método consensual deveria ser buscado antes do não-consensual, em que se prioriza o litígio e há um extremo antagonismo entre as pessoas envolvidas no conflito e uma contrariedade à negociação.

Naturalmente, toda regra comporta sua exceção. Existem situações em que o “caminho ideal da gestão dos conflitos familiares” não pode ser seguido. É o que ocorre, por exemplo, em casos de violência intrafamiliar, que desde logo requerem uma medida judicial para afastamento do ofensor do lar. Nos demais casos, no entanto, o referido caminho poderia ser trilhado.

Infelizmente, devido à “cultura do litígio” em que vivemos, freqüentemente as pessoas preferem cortar a comunicação e delegar ao poder jurisdicional do Estado as suas decisões.

É mais fácil projetar nossos erros nos outros e na situação externa do que procurar as falhas dentro de nós mesmos. Porém, agindo dessa forma, estaremos perdendo uma valiosa oportunidade de crescimento pessoal (quem disse que crescer não dói?).

6.7.06

A percepção conflituosa da realidade



Frente a um conflito familiar, o que fazer?

Existem diversas formas de se lidar com uma situação conflituosa. É muito importante ter isso em mente, pois muitas vezes, quando passamos pelo estresse de um conflito, nossa percepção se fecha e só conseguimos visualizar poucos caminhos à nossa frente. É como se uma forte neblina escondesse as placas de sinalização e só conseguíssemos ver a estrada que se mostra mais acessível e vantajosa no momento. Nessas horas é sempre bom nos questionarmos:

Essa parece ser a melhor alternativa agora, mas e depois? Daqui a alguns meses ou anos, continuará sendo a escolha mais adequada?

Os conflitos familiares freqüentemente estão carregados de sentimentos de raiva, frustração, de luta pelo poder, de busca de vingança, enfim, de demandas emocionais que são capazes de transformar uma situação que poderia ser resolvida através de um diálogo em uma verdadeira batalha judicial.

Somos seres humanos, sujeitos a falhas. Nossa percepção da realidade, por mais verídica que pareça, é apenas a NOSSA percepção, permeada pelas nossas emoções, racionalizações, enfim, pelas nossas histórias de vida. O mesmo ocorre com a outra pessoa que está em conflito conosco, que também possui suas percepções e limitações.

Como lembra Humberto Maturana (2001, p. 160):

Considero que o maior perigo espiritual que uma pessoa enfrenta em sua vida é o de acreditar que ele ou ela é a dona de uma verdade, ou a legítima defensora de algum princípio, ou a possuidora de algum conhecimento transcendental, ou a dona, por direito, de alguma entidade, ou a merecedora de alguma distinção, e assim por diante, porque ele ou ela imediatamente torna-se cega para a sua condição, e entra no beco sem saída do fanatismo.
Também considero que o segundo maior perigo espiritual que uma pessoa enfrenta em sua vida é o de acreditar, de uma forma ou de outra, que ele ou ela não é totalmente responsável por seus atos, ou por desejar ou não as suas conseqüências.

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Referência:
MATURANA, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte: UFMG, 2001.

3.7.06

Como você lida com os conflitos?


Frente a um conflito, você tende a evitá-lo, de forma ansiosa como o assustado animalzinho ao lado? Ou, ao contrário, não teme “barracos” e aguça ainda mais as divergências em conflito?

Na realidade, apesar de poder haver um estilo pessoal de abordar um conflito, existem vários fatores que interferem na nossa escolha de uma determinada atitude frente a uma situação conflituosa:

  • A natureza desse conflito;
  • As suas razões subjacentes;
  • O contexto em que ocorre;
  • O comportamento do “oponente”;
  • As experiências anteriores que tivemos com relação aos conflitos e seus resultados.

Algumas atitudes que podem surgir frente a um conflito:

  • Evasão: evitação do conflito a qualquer custo;
  • Repressão: controle do conflito pela força;
  • Acomodação: preferência pela aceitação ou concordância superficial;
  • Confrontação: discussão aberta das discordâncias, com um aumento das divergências;
  • Negociação: busca de uma solução intermediária;
  • Colaboração: busca de uma solução válida para todos.

Não se pode dizer que existe uma atitude totalmente certa ou errada para gerir um conflito. Dependendo da situação, determinado tipo de abordagem pode se mostrar mais adequada do que outra. Evitar um conflito, por exemplo, pode ser apropriado quando o assunto é pouco significante ou existe falta de informação, ou quando outro indivíduo seria mais indicado para resolver melhor o problema.

Portanto, por mais estranha que pareça a reação de uma pessoa frente a determinada situação conflituosa, pode ser que tenha sido a melhor alternativa que ela encontrou no momento. O nosso amiguinho peludo (acima) que o diga... Talvez não estivesse em um de seus melhores dias. Talvez tivesse tomado muita cafeína. Talvez essa fosse a sua reação costumeira frente a situações de estresse. Quem sabe?

E você? Qual a sua reação frente a um conflito? Já parou para pensar sobre isso?

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Foto: Flipped Out