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13.6.06

Métodos de gestão de conflitos

Há basicamente dois métodos de resolução/gestão de um conflito, que podem ser resumidos a seguir:

1. Método Não-Consensual
  • As pessoas envolvidas não estão dispostas a negociar e chegar a um acordo.
  • Prioriza o litígio.
  • Sistema ganhar-perder: há sempre um ganhador e um perdedor.
  • Ex: ação de separação judicial litigiosa.
2. Método Consensual
  • Existe uma disposição ou uma capacidade das pessoas para discutir sobre as questões em conflito e chegar-se a um consenso.
  • Prioriza o acordo.
  • Sistema ganhar-ganhar: os envolvidos saem, de alguma forma, beneficiados.
  • Ex: ação de separação consensual, mediação de conflitos.
Deve ser oportunizada uma ampla orientação sobre tais métodos à pessoa em conflito, para que seja capaz de verificar qual a opção mais adequada ao seu caso.

Além disso, não se pode esquecer que:

“Visto numa perspectiva de resolução de problemas, o conflito torna-se, com freqüência, um aspecto do processo de autotestagem e auto-avaliação da pessoa e deste modo pode ser bastante agradável experimentar o prazer advindo do uso ativo e pleno de suas próprias capacidades” (Moscovici, 1998, p. 154)
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Referência
MOSCOVICI, Felá. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.

8.6.06

Uma visão integral do conflito


A saúde nas relações familiares não é medida através da ausência de problemas ou de conflitos. Ao longo do ciclo de vida da família, existem muitos estressores, basicamente de dois tipos (Carter e McGoldrick, 1995):

1. Estressores verticais --> padrões de relacionamento e funcionamento que são transmitidos para as gerações seguintes. Inclui atitudes, mitos, tabus, expectativas, rótulos, segredos e questões opressivas familiares.

2. Estressores horizontais --> ansiedades produzidas na família conforme ela avança no tempo. Podem ser de dois tipos:
  • Desenvolvimentais: dizem respeito às transições do ciclo de vida familiar (às diversas fases pelas quais uma família pode passar, como por exemplo, o novo casal, as famílias com filhos pequenos, as famílias com filhos adolescentes, o “ninho vazio”, o envelhecimento, o divórcio, o recasamento, etc).
  • Impredizíveis: relacionados a fatos inesperados, como morte precoce, doença crônica, acidente.
Além desses estressores, não se pode deixar de considerar o impacto do contexto social, econômico, político e cultural sobre a família. Assim, como destaca Walsh (2002, p. 20), “as variações inesperadas na rotina, as crises e as eventuais responsabilidades que se somam exigem flexibilidade e tolerância para o caos que ocasionalmente pode se produzir”.
Mas nem sempre essa “flexibilidade” e “tolerância” são metas fáceis de serem alcançadas, de forma que muitas vezes os membros integrantes das famílias se vêem obrigados a buscar ajuda profissional, seja na área psicológica, seja na jurídica. Conhecer um pouco das vicissitudes dos conflitos familiares é uma forma de os profissionais conseguirem compreender melhor o seu papel frente à(s) pessoa(s) em conflito(s) em busca de uma pequena luz no fim do túnel – que, como todo túnel, possui uma penumbra apenas passageira.
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Referências
CARTER, Betty; MCGOLDRICK, Mônica. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
WALSH, Froma. Casais saudáveis e casais disfuncionais: qual a diferença? In: Andolfi, M. (org.). A crise do casal: uma perspectiva sistêmico-relacional. Porto Alegre: Artmed, 2002, p. 13-28.

* Paisagem fotografada por Lisiane L. K.

7.6.06

O caos como oportunidade de mudança

Chaos often breeds life, when order breeds habit.

Essa frase, de autoria do novelista e historiador americano Henry Adams (1858-1918), contém a idéia de que a vida é freqüentemente criada pelo caos, enquanto que a ordem cria o hábito - ou seja, as mudanças não surgem da “mesmice”. O caos, por mais desordenado e aleatório que pareça, na verdade possui uma ordem intrínseca e, por sua vez, produz uma nova ordem.
Segundo a nova ciência da complexidade, em muitos sistemas não-lineares (os sistemas vivos, por exemplo), pequenas mudanças em certos parâmetros podem produzir mudanças dramáticas nas suas características básicas. Esses sistemas são, portanto, essencialmente instáveis, e os pontos críticos de instabilidade são denominados “pontos de bifurcação”, nos quais o sistema pode ser empurrado em direção ao uma nova ordem (através da auto-organização) ou à desintegração. A nova percepção da ordem e desordem representa uma inversão das concepções científicas tradicionais, para as quais a primeira está associada com o equilíbrio, e a segunda com situações de não-equilíbrio (Capra, 2002).

Assim, utilizando-se da metáfora da teoria do caos, pode-se dizer que as “desordens” sofridas pelo sistema familiar provocam bifurcações rumo a novas ordens mais complexas, formando uma rica diversidade de relações, algumas aparentemente caóticas, mas que, na realidade, possuem suas ordens intrínsecas.Essa complexidade oferece uma falsa impressão de que as famílias podem estar desestruturadas ou até mesmo no seu limite de resistência quando, de fato, demonstram uma ampla capacidade de mudança e de “adaptação” ativa às novas tendências socioeconômicas e culturais.
As relações familiares, como todas as relações sociais, estão sujeitas a conflitos. O conflito, em si, não é patológico ou destrutivo, depende da forma como é tratado, de sua intensidade, do contexto. Como define Moscovici (1998, p. 146):
De um ponto de vista amplo, o conflito tem muitas funções positivas. Ele previne a estagnação decorrente do equilíbrio constante da concordância, estimula o interesse e a curiosidade pelo desafio da oposição, descobre os problemas e demanda sua resolução. Funciona, verdadeiramente, como a raiz de mudanças pessoais, grupais e sociais.
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Referências
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 2002.
MOSCOVICI, Felá. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.

* Paisagem fotografada por Lisiane L. K.